E eu, que sempre me julguei tão livre, acabo por ser prisioneira da minha própria mente, em minha própria casa. Seja frente a frente, seja a 1.000km de distância, cá estou eu ponderando o que achariam “certo”, o que os agradaria. Ou melhor: o que os deixaria menos decepcionados comigo.
Desconfio que nunca ter sido a filha ideal provocou essa necessidade em mim. Ouvir insinuações de que eu faço tudo errado, que não sou capaz, que não sei decidir o que é melhor para mim tenha se enraizado no meu ser… e me tornado exatamente isso que ouvi.
E cá estou eu: presa. Paralisada. Perdida.
Surda para as reivindicações que faço, pois eles não me ouvem, e eu não me ouço.
Se não escuto, é mais fácil cômodo me calar.
Minha cara, não é nada fácil. Pelo contrário, é vergonhoso. É doloroso sentir-se incapaz de decidir o rumo da própria vida, de fazer a menor das tarefas, pois afinal, eles sentem-se no direito de realizar tudo isso por mim.
Sinto-me uma farsa, incompetente, trancafiada num quarto que está a 1.000 km de onde moro. Sinto-me um cachorro sendo puxado pela coleira colocada há 22 anos (quase 23).