Sinto subitamente o teu cheiro no meio da multidão, pois já não posso negar que tu és tão onipresente na minha mente como a morte é num leito de hospital. Ouço tua voz enquanto grito em pensamentos, tento me desvencilhar, e já é tarde demais. Às vezes, absorta pela luz de estrelas que ainda não nasceram, tua alma roça na minha, e, a partir daí, nasce algo tão sólido quanto o amor. Compreendo que não há mais volta: devo escolher entre a dor de te amar e a dor de te perder.
Este – o amor- que transcende e transborda qualquer amargura de viver. Este que é a eminente amargura em si, pois nos faz vulnerável ao outro, e assim temos que abdicar do sentimento mais nato ao ser humano: a desconfiança.
Então não tardes em tocar nos meus olhos e me ajudar a ver bondade e boas intenções em teu coração. Não almejo jamais voltar ao limiar do universo, onde nada nasce e tudo morre, sendo nada mais que um brilho fosco e murcho, observando de longe a tua chama aquecer outras camas.