Como de costume, por volta da meia-noite, desci e fui preparar-me um café. Quando passei pela porta que dava para o quintal em direção à cozinha, ouvi um som de água jorrando. Não dei muita importância pois pensei que poderia ser alguém da casa ao lado tomando banho.
Esquentei a água, belisquei um pão, despejei o pó na xícara e sai da cozinha. Enquanto ainda tentava dissolver a substância na água, fui até a porta que dava para a parte interna e fechada do quintal. Dali continuei a ouvir o barulho de água. Sai dali e decidi voltar para o quarto, mas logo percebi que o barulho vinha da torneira do quintal, a qual existência eu mal havia notado antes.
Girei a chave e abri a porta. Neste instante, senti-me uma protagonista de algum filme de terror barato, onde a mocinha sempre curiosa sai de casa para bisbilhotar os barulhos estranhos. Aquele sentimento me foi novo.
Enquanto eu atravessava o quintal em direção a torneira, desejei que eles viessem. Quem quer que “eles” signifiquem: demônios, extraterrestres, Hannibal Lecter. Eu só queria que eles me achassem e me levassem para outro lugar, eu queria sentir medo, aflição, desespero. Talvez eu queria me sentir viva quando sabia que estava prestes a morrer.
Talvez eu só queria achar a mim mesma.